chá evocando sentimentos

16/01/2011

Tive uma manhã bem tempestuosa na sexta-feira: uma tentativa de assalto seguida de agressão física que deixou marcas. Entrei em casa tremendo (pânico, medo, raiva, revolta, pena, compaixão, mais um pouco de medo) e só pensava: preciso reverter estes sentimentos.

Depois do choro e do susto, fiquei de pé pensando que chá escolheria para limpar a alma. Queria também estar conectada com pessoas que amo. Depois de uns 5 segundos pensando, não tive dúvidas. Um dia antes, na quinta-feira, eu tinha recebido uma carta da minha grande amiga Graziela Kronka, com histórias, mimo (uma edição especial de ano novo do Papier d’Arménie, que adoro, assim como Graziela, Puri e Caio – Fernando Abreu, diga-se de passagem) e um punhado de chá comprado no Porto (foi o maior esquema para ela conseguir comprar este chá específico, pois não havia mais pacote dele para venda). A Gra tinha trazido este chá quando veio para São Paulo, mas ele ficou esquecido na mala quando nos encontramos.

Então foi pelo correio que ele veio. E no momento que tudo se conecta de uma maneira impressionante.

O nome do chá não poderia ser mais óbvio: HARMONIA (o mesmo pedido por Puri e Richard antes mesmo de ver o cardápio quando chegaram neste café secreto do Porto, recomendação da Graziela, é claro)  e sua mistura simples não poderia ser mais maternal: chá verde com rosas.

Mais do que lindo ou saboroso  – e o “Harmonia” é as duas coisas-, o chá caiu como um chão limpo, liso e escorregadio, daqueles que trazem o som de uma valsa. As pontas dos pés descalços deslizam no piso. Sequei as lágrimas e a dor, evocando a cada gole a transformação de sentimentos.

Em meu silêncio, ainda na varanda, eu, que não sei rezar, pedi harmonia para minha dor, para meu medo, para o meu mundo e o do menino que me agrediu. Então, veio a chuva.

E a cada dia que passa, acredito mais nas transformações, assim como na complexidade de sentimentos e fatos. Tive notícias muito boas na parte da tarde – uma delas veio do médico, dizendo que, apesar dos golpes, nenhum trauma foi detectado. Depois de uns mililitros na veia para curar as dores físicas e um dia de repouso, tudo funciona bem, na mais perfeita ordem. Minha cuca intacta, ávida por novas ideias e projetos, se concentra para frear o medo que tenta dominar a mente. Tudo que eu menos quero é perder minha liberdade de andar pelas ruas de São Paulo (o trauma do assalto em 2008 em Paris me calou de passos e letras durante uns meses).

Que este episódio me traga de volta as palavras que foram roubadas três anos atrás.

Este post é uma homenagem à Graziela, que também passou por meses de limpeza e está vivendo mudanças. Também ao Puri e Richard – guardei um pouco do chá para tomarmos ‘por skype’ quando vocês três se reencontrarem. A minha mãe – Rosa -, ao meu pai e aos meus amigos, que me acolhem neste momento.

3 Respostas to “chá evocando sentimentos”

  1. Michelle Says:

    Puxa Erikinha, não sei o que dizer. No mínimo, compartilho seus sentimentos e fico feliz em saber que você procurou harmonia em todos eles. Isso é muito monja Coen 🙂

    Espero que esteja melhor. Sei que está.
    Se precisar, estou aqui, eu o meu e o seu bogu

    Beijos

  2. Graziela Says:

    🙂


  3. […] o último post que me exigiu uma parada para me refazer um pouco, muita coisa aconteceu: um encontro relâmpago com uma amiga querida que estava de passagem por […]


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